Era um dia chuvoso.
Fazia exatamente quatro anos que a lei havia sido decretada. A crueldade tomava conta do país. Muitas mães desatavam a chorar e a vida tornava-se, então, fria e triste como a chuva que caía naquele dia.
Hoashi era uma dessas mães tristes que choravam noite e dia, sem parar, por conta de suas filhas assassinadas ou abandonadas por si mesmas.
Há três anos, seu marido havia obrigado-a a abortar sua cria, que estava crescendo em seu ventre. Era uma menina, sendo assim ele não queria. Desejava um menino forte e sadio para ajudar no trabalho de sustento da casa.
Segundo a lei, eles poderiam ter apenas um bebê. Deste modo, a menina seria imprestável.
O que ele não sabia era que Hoashi não havia tirado sua filha.
Quando este descobriu, expulsou-a de casa. Ela foi para casa de seus pais em busca de refúgio, que a receberam prontamente.
O tempo foi passando e chegou o dia em que Hoashi teve o seu bebê. Era uma linda menina, porém conforme o seu crescimento notaram que ela era cega.
Por obra do destino, Hoashi encontrou com o seu marido no mercado, onde conversaram.
Contou a ele o que havia ocorrido neste tempo em que estavam separados. Foi aí que se encheu de razão e começou a proclamar que ele tinha avisado a desgraça que seria ter essa criança.
Ele propôs, então, que ela se livrasse da pequena e voltasse para ele. Assim, eles tentariam novamente e certamente o filho tão esperado chegaria.
Hoje, Hoashi está com o seu marido e seu filho.Ela optou por abandonar sua frágil menina.
Chora todos os dias. Lamenta toda à noite, em silêncio, amargurada com a sua culpa de não ter sido uma boa mãe para aquela menina.
O que ela não imaginava, era que aquela pobre menina havia sido levada para o Brasil e lá estava sendo criada por um grupo de marginais para, mais tarde, ser prostituta.